Antes de mais nada, quero só dizer que este texto consiste numa inspiração (muito humilde) do poema "Viver sempre também cansa", de José Gomes Ferreira.
Viver sempre também cansa.
A Terra gira, os animais nascem, os animais morrem. Às vezes chove, outras vezes faz sol. Até pode nevar. Mas nunca teremos uma chuva de animais, a Terra nunca vai ser o sol e a neve jamais será naturalmente vermelha.
Até a Lua, que parece mágica, nunca nos irá piscar o olho quando ninguém está a olhar. Também nunca nos levará a terras distantes, de cavaleiros e suas princesas, de batalhas heróicas, até terras mágicas com os seus jardins esbeltos e infindáveis, tal como a liberdade de quem lá vive.
Não. Tudo é igual, mecânico e exacto.
Os homens, instrumentos vazios, comem, bebem, riem e choram sem imaginação.
As crianças, pobres sonhadoras, são tidas como inocentes desconhecedoras do mundo. Mas lá no fundo, conhecem mais mundos inventados do que qualquer adulto! Só é pena limitarem-se ao sonho, porque a Terra não deixa mais.
Tomemos as cidades como exemplo. Jamais ganharão pernas ou asas; continuarão sempre as mesmas, com os seus bairros miseráveis, destruídos pelas guerras de duas pessoas que não são capazes de partilhar o único mundo que têm.
E como se não faltasse mais nada, ainda me obrigam a viver até à morte para assistir a este espectáculo tão mórbido, pobre e infeliz!
Ah!, se eu pudesse suicidar-me por seis meses, ficar em "stand-by" para mais tarde acordar nos teus braços, deitado num dos muitos mundos que imaginei em criança.
Quando já não houvesse nada, as cidades tivessem sido destruídas, o sol tivesse perdido o seu brilho e reinasse a monotonia, viriam perguntar-te quando havia eu morrido. Então tu dirias: "Matou-se esta manhã. Agora não o vou ressuscitar por uma bagatela".
Depois virias velar por mim enquanto eu descansava deitado com a Morte num dos muitos mundos que inventei.
Porquê?, perguntam vocês. Porque tudo é sempre igual, mecânico e exacto.
Porque viver sempre também cansa.
27/05/2010
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