Este texto foi inspirado no poema "Portugal em Paris", de Manuel Alegre.
Bonifácio ainda era um jovem quando fôra forçado a abandonar a sua terra. "Tem muita liberdade na cabeça, é o que é!", diziam os doutores lá da capital, os que mandavam no país.
Sem família no estrangeiro - ou até fora da sua terra - optara por emigrar para França, para Paris, a capital do desenvolvimento e da riqueza, segundo o que lhe haviam contado na aldeia.
Foi um dia triste, aquele em que o jovem partiu. Sozinho na estação, esperou pacientemente junto dos restantes, cujas cabeças transbordavam liberdade.
-Ó tu aí! O que foi que fizeste para vires nesta excursão?, perguntou-lhe alguém.
-Usei a inteligência, amigo! Parece que os doutores não gostam disso!, respondeu Bonifácio com um tom de amargura na voz
Só voltou a falar com alguém quando respirou os ares parisienses. Falou porque não tinha a certeza de ter apanhado o comboio certo. Então seria lá Paris uma cidade pejada de pobres pedintes... Ainda por cima muitos eram Portugueses!
Eram cestos e cestos pelo chão. restos. Braços. Portugal sem nada, sem nada despejado nas ruas de Paris.
Bonifácio, confuso e aterrorizado, saiu daquela gare maldita, calcando bilhetes de esperança no chão com destino àquela cidade estranha.
"E o trigo? E o mar? Foi a terra que não te quis?", pensava o o«jovem, olhando para os agricultores e os pescadores que se aglomeravam à saída da estação.
Uns tempos mais tarde, conseguiu arranjar emprego na construção civil, juntamente com outros conterrâneos. Eram, duzentos, mil infelizes a quem a vida na terra natal havia sido negada por pensarem mais do que era peimitido, ou seja, nada.
Homens e mulheres visonários e confiantes, tal como o jovem Bonifácio, que um dia haviam saído da sua terra, esquecido o que sabiam e se tinham tornado em meras carcaças vazias braços e mãos para alugar que tentavam ganhar um pouco para conseguirem sobreviver numa terra que não conheciam.
Segundo ouvi contar, o jovem agora cresceu e já tem uma loja modesta nos arredores da cidade. Lá vai vivendo. Mal, mas vai.
Tal como ele há muitos outros; chegavam do comboio tristes, com saudade e fatigados, completamentes irreconhecíveis.
Privados daquilo que amavam, impedidos de pensar.
E era Portugal que passava por entre a gente e solitário nas ruas Paris.
30/09/2010
21/07/2010
Carlos Núñez - "Celtique Médiéval"
Na minha opinião, a música é simplesmente mágica, envolvendo-nos na aura de combate (quiçá) em tempos idos dos Celtas.
Serve-me como excelente fonte de inspiração. Espero que gostem!
Serve-me como excelente fonte de inspiração. Espero que gostem!
27/05/2010
Viver sempre também cansa
Antes de mais nada, quero só dizer que este texto consiste numa inspiração (muito humilde) do poema "Viver sempre também cansa", de José Gomes Ferreira.
Viver sempre também cansa.
A Terra gira, os animais nascem, os animais morrem. Às vezes chove, outras vezes faz sol. Até pode nevar. Mas nunca teremos uma chuva de animais, a Terra nunca vai ser o sol e a neve jamais será naturalmente vermelha.
Até a Lua, que parece mágica, nunca nos irá piscar o olho quando ninguém está a olhar. Também nunca nos levará a terras distantes, de cavaleiros e suas princesas, de batalhas heróicas, até terras mágicas com os seus jardins esbeltos e infindáveis, tal como a liberdade de quem lá vive.
Não. Tudo é igual, mecânico e exacto.
Os homens, instrumentos vazios, comem, bebem, riem e choram sem imaginação.
As crianças, pobres sonhadoras, são tidas como inocentes desconhecedoras do mundo. Mas lá no fundo, conhecem mais mundos inventados do que qualquer adulto! Só é pena limitarem-se ao sonho, porque a Terra não deixa mais.
Tomemos as cidades como exemplo. Jamais ganharão pernas ou asas; continuarão sempre as mesmas, com os seus bairros miseráveis, destruídos pelas guerras de duas pessoas que não são capazes de partilhar o único mundo que têm.
E como se não faltasse mais nada, ainda me obrigam a viver até à morte para assistir a este espectáculo tão mórbido, pobre e infeliz!
Ah!, se eu pudesse suicidar-me por seis meses, ficar em "stand-by" para mais tarde acordar nos teus braços, deitado num dos muitos mundos que imaginei em criança.
Quando já não houvesse nada, as cidades tivessem sido destruídas, o sol tivesse perdido o seu brilho e reinasse a monotonia, viriam perguntar-te quando havia eu morrido. Então tu dirias: "Matou-se esta manhã. Agora não o vou ressuscitar por uma bagatela".
Depois virias velar por mim enquanto eu descansava deitado com a Morte num dos muitos mundos que inventei.
Porquê?, perguntam vocês. Porque tudo é sempre igual, mecânico e exacto.
Porque viver sempre também cansa.
Viver sempre também cansa.
A Terra gira, os animais nascem, os animais morrem. Às vezes chove, outras vezes faz sol. Até pode nevar. Mas nunca teremos uma chuva de animais, a Terra nunca vai ser o sol e a neve jamais será naturalmente vermelha.
Até a Lua, que parece mágica, nunca nos irá piscar o olho quando ninguém está a olhar. Também nunca nos levará a terras distantes, de cavaleiros e suas princesas, de batalhas heróicas, até terras mágicas com os seus jardins esbeltos e infindáveis, tal como a liberdade de quem lá vive.
Não. Tudo é igual, mecânico e exacto.
Os homens, instrumentos vazios, comem, bebem, riem e choram sem imaginação.
As crianças, pobres sonhadoras, são tidas como inocentes desconhecedoras do mundo. Mas lá no fundo, conhecem mais mundos inventados do que qualquer adulto! Só é pena limitarem-se ao sonho, porque a Terra não deixa mais.
Tomemos as cidades como exemplo. Jamais ganharão pernas ou asas; continuarão sempre as mesmas, com os seus bairros miseráveis, destruídos pelas guerras de duas pessoas que não são capazes de partilhar o único mundo que têm.
E como se não faltasse mais nada, ainda me obrigam a viver até à morte para assistir a este espectáculo tão mórbido, pobre e infeliz!
Ah!, se eu pudesse suicidar-me por seis meses, ficar em "stand-by" para mais tarde acordar nos teus braços, deitado num dos muitos mundos que imaginei em criança.
Quando já não houvesse nada, as cidades tivessem sido destruídas, o sol tivesse perdido o seu brilho e reinasse a monotonia, viriam perguntar-te quando havia eu morrido. Então tu dirias: "Matou-se esta manhã. Agora não o vou ressuscitar por uma bagatela".
Depois virias velar por mim enquanto eu descansava deitado com a Morte num dos muitos mundos que inventei.
Porquê?, perguntam vocês. Porque tudo é sempre igual, mecânico e exacto.
Porque viver sempre também cansa.
Subscrever:
Comentários (Atom)
 
 
