Uma forma de espreitar o mundo
Outra maneira de o conhecer
De ouvir o som das palavras
De as tentar perceber.
É contar de outra forma
Cada experiência, cada dia
De dizer qual é
A nossa tristeza, a nossa alegria.
É um mundo repleto
De palavras e imaginação
Inventadas por um órgão
Chamado coração.
É um mar infindável
Repleto de cantos escuros por conhecer
E que através do pensamento
Podemos um dia ver.
02/06/2011
07/03/2011
A Estrada
No nada. No meio do nada. Completamente perdida no meio do nada. Uma estrada abandonada pelo mundo serpenteia só por aqui e por ali, algures no meio do nada.
É velha e poeirenta. Está cansada, gasta pelo esquecimento. Está orlada por poeira, sua vizinha de longa data e pelo vento que a acompanha nas suas viagens.
Ao longe vêem-se os montes, lá muito ao longe. Erguem-se contra o céu como quem se despede da estrada que parte para o nada, sempre acompanhada pela sua fiel poeira.
Mais adiante, já bem dentro do nada, a estrada ri-se numas quantas curvas e contracurvas, jogando à apanhada com as areias do deserto por onde passa. Os escassos tufos de erva ao seu lado descansam, absortos em pensamentos vagos, demasiado ocupados para restar atenção à estrada galhofeira.
Mas de repente - atentai! Lá atrás, onde o horizonte e o chão brincam com a nossa vista e nos confundem, vê-se um viajante. É a outra metade da estrada, o recheio do bolo já seco, o ar do pneu já gasto e cansado de tanto correr.
É um homem, também ele já cansado da vida, arrastando os pés seus companheiros de viagem, que pedem um pouco de misericórdia e uns sapatos novos. Mas o homem não lhes presta atenção. Olha fixamente o chão à sua frente, avançando com a cabeça baixa, escondida no meio dos ombros largos e fortes, desabituados do trabalho árduo de outrora que os mantivera robustos.
A estrada, curiosa, observa o homem que caminha juntamente com ela e tenta dialogar com ele. Mas o homem já está longe – entretanto passara um carro e, sem que a estrada percebesse, o homem rapidamente entrou no veículo e desapareceu no horizonte, do mesmo modo como havia aparecido na história.
Fica então outra vez só a estrada. O silêncio. A calma. O respirar ofegante do vento, ansioso por brincar às corridas com a estrada. A poeira do caminho. Os escassos tufos de erva. E a estrada. Sozinha, abandonada, esquecida, gasta, velha. Enfim, a estrada.
Cedo as marcas dos pneus do carro que havia levado o homem desaparecem. Volta tudo à normalidade, ao antigamente.
A estrada segue o seu caminho, conversando com o vento sobre tudo e sobre nada, sobre isto e sobre aquilo, só para matar o tempo.
Assim, vejo a estrada partir, acenando um tímido adeus enquanto corre para lá, para lá longe, onde a vista já não alcança. Para o nada. Para o meio do nada. Serpenteia, ondula, esquiva-se ao caminho. Os montes olham para mim, assegurando-me que tomarão conta da estrada. Isso deixa-me mais descansado.
Enfim, é melhor deixar a estrada seguir viagem. Por isso, acabo o meu cigarro e bochecho o resto do uísque que esperava pacientemente no fundo da garrafa. De seguida, despeço-me dos montes e das areias, dos escassos tufos de erva e do vento, que já vai atrasado na corrida com a estrada. Meto a mala ao ombro e começo a caminhar para o lado contrário à estrada.
Depressa também desapareço na linha do horizonte.
Depois fica o nada. Apenas e só o nada. Mas não ficará só por muito tempo, pois a estrada irá voltar um dia. Se não for esta, serão outras, mais jovens e cheias de vida, ziguezagueando por entre vales e montanhas, perturbando o mórbido silêncio do nada, enchendo-o com o seu som.
Mas até lá fica o nada. O algures. O aqui e ali. O nada. Apenas e só o nada perdido no meio do nada.
É velha e poeirenta. Está cansada, gasta pelo esquecimento. Está orlada por poeira, sua vizinha de longa data e pelo vento que a acompanha nas suas viagens.
Ao longe vêem-se os montes, lá muito ao longe. Erguem-se contra o céu como quem se despede da estrada que parte para o nada, sempre acompanhada pela sua fiel poeira.
Mais adiante, já bem dentro do nada, a estrada ri-se numas quantas curvas e contracurvas, jogando à apanhada com as areias do deserto por onde passa. Os escassos tufos de erva ao seu lado descansam, absortos em pensamentos vagos, demasiado ocupados para restar atenção à estrada galhofeira.
Mas de repente - atentai! Lá atrás, onde o horizonte e o chão brincam com a nossa vista e nos confundem, vê-se um viajante. É a outra metade da estrada, o recheio do bolo já seco, o ar do pneu já gasto e cansado de tanto correr.
É um homem, também ele já cansado da vida, arrastando os pés seus companheiros de viagem, que pedem um pouco de misericórdia e uns sapatos novos. Mas o homem não lhes presta atenção. Olha fixamente o chão à sua frente, avançando com a cabeça baixa, escondida no meio dos ombros largos e fortes, desabituados do trabalho árduo de outrora que os mantivera robustos.
A estrada, curiosa, observa o homem que caminha juntamente com ela e tenta dialogar com ele. Mas o homem já está longe – entretanto passara um carro e, sem que a estrada percebesse, o homem rapidamente entrou no veículo e desapareceu no horizonte, do mesmo modo como havia aparecido na história.
Fica então outra vez só a estrada. O silêncio. A calma. O respirar ofegante do vento, ansioso por brincar às corridas com a estrada. A poeira do caminho. Os escassos tufos de erva. E a estrada. Sozinha, abandonada, esquecida, gasta, velha. Enfim, a estrada.
Cedo as marcas dos pneus do carro que havia levado o homem desaparecem. Volta tudo à normalidade, ao antigamente.
A estrada segue o seu caminho, conversando com o vento sobre tudo e sobre nada, sobre isto e sobre aquilo, só para matar o tempo.
Assim, vejo a estrada partir, acenando um tímido adeus enquanto corre para lá, para lá longe, onde a vista já não alcança. Para o nada. Para o meio do nada. Serpenteia, ondula, esquiva-se ao caminho. Os montes olham para mim, assegurando-me que tomarão conta da estrada. Isso deixa-me mais descansado.
Enfim, é melhor deixar a estrada seguir viagem. Por isso, acabo o meu cigarro e bochecho o resto do uísque que esperava pacientemente no fundo da garrafa. De seguida, despeço-me dos montes e das areias, dos escassos tufos de erva e do vento, que já vai atrasado na corrida com a estrada. Meto a mala ao ombro e começo a caminhar para o lado contrário à estrada.
Depressa também desapareço na linha do horizonte.
Depois fica o nada. Apenas e só o nada. Mas não ficará só por muito tempo, pois a estrada irá voltar um dia. Se não for esta, serão outras, mais jovens e cheias de vida, ziguezagueando por entre vales e montanhas, perturbando o mórbido silêncio do nada, enchendo-o com o seu som.
Mas até lá fica o nada. O algures. O aqui e ali. O nada. Apenas e só o nada perdido no meio do nada.
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