23/12/2008

O Menino e a Estrela de papel


Em criança costumava ter sonhos em que fazia coisas impossíveis, como voar para sítios longínquos que inventava ou descer ao mais profundo dos oceanos e conhecer todas as criaturas que visse ou imaginasse.
Como não tinha televisão em casa, costumava ir para a a rua brincar com os outros meninos; fazíamos papagaios de papel e ficávamos a vê-los planar lá no alto, tal como eu fazia nos meus sonhos.
Agora que sou um velho, já não sonho com essas coisas; infelizmente, raramente sonho. Simplesmente fecho os olhos e mal tenho tempo de sonhar, pois já é dia e tenho de ir tratar das finanças, de ir visitar um amigo ou ficar apenas a ler.
Mas há uns dias atrás tive um sonho bastante curioso; era uma grande estrela de papel e um menino de bibe.
O menino agarrou na estrela e saiu de casa. Era de noite e estava muito escuro.
Então, o menino largou a estrela e esta subiu, subiu até o menino quase deixar de a ver. Subitamente, a estrela começou a brilhar e o menino, percebendo o que tinha acontecido, foi a casa buscar uma tesoura e, quando voltou, cortou o cordel.
A estrela subiu mais e mais, até que passou a ser um ponto brolhante ao pé de muitos outros. Depois disso, desapareceu.
O menino tinha ficado a observar tudo, maravilhado. Ao aperceber-se do sucedido, agarrou no cordel e meteu-o no bolso.
A seguir, voltou para casa e adormeceu.
E esse menino era eu.

Casa da Poesia

É grande e animada
Conforme a disposição do autor
Que escreve a sua composição
Com alegria, com tristeza, com vigor.

É onde vivem os sonhos
Onde reina a imaginação
Onde não há tempo nem lugar
Onde tudo é uma canção.

Lá se esconde o mais profundo segredo
Aquele dita a nossa vocação
Aquele que está lá mais ao fundo
E a quem chamaram coração.

A casa é bem grande
E a sua beleza fenomenal
Pois o poeta escreve aquilo que sente
No seu refúgio habitual.